Processos de escuta com crianças e adolescentes

A escuta de crianças e adolescentes é uma etapa estratégica durante o desenvolvimento de ações voltadas para esse público. Isso porque, além de possibilitar sua participação em processos que as afetam diretamente, a escuta dá espaço para ampliar a voz de pessoas que, no geral, não são ouvidas ou envolvidas em tomadas de decisão.

Como a promoção da participação social, através da construção de conhecimento, é um dos pilares da ReCoS (Rede Conhecimento Social), acreditamos que crianças e adolescentes devem ter voz e contribuir, afinal também são seres sociais, ainda que não tenham total autonomia para respondem por si mesmas.

Para potencializar iniciativas que tragam esse valor como parte de sua idealização ou implementação, apresentamos algumas experiências em que a escuta de crianças e adolescentes tem sido realizadas e que podem ser referências para outras ações que promovam a participação infantojuvenil.

Avaliação Integrada Liga Solidária

Iniciamos em setembro de 2023 um processo que chamamos de “avaliação integrada” da Liga Solidária. Esse é um processo participativo que está escutando pessoas que participam das atividades oferecidas pela Liga Solidária, inclusive crianças e adolescentes, para fundamentar o aperfeiçoamento dos programas oferecidos pela instituição. Nessa iniciativa estamos envolvendo diversos públicos na avaliação, não apenas como pessoas que trazem sua opinião ao responderem os questionários, mas também permitindo que façam parte do processo de construção dos instrumentos de levantamento da percepção.

A Liga Solidária é uma organização da sociedade civil (OSC), sem fins lucrativos, que completou 100 anos em 2023, e que desenvolve programas de educação, longevidade e cidadania que beneficiam mais de 24.000 crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Com seus programas, a instituição tem como objetivo trabalhar em três eixos estratégicos: protagonismo, resolução de conflitos e articulação e mobilização. Considerando esse foco de atuação, nas oficinas iniciais dessa avaliação participativa, essas temáticas foram debatidas por crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, com o propósito de entender como percebem o desenvolvimento dessas habilidades na prática e no dia a dia das atividades oferecidas pela instituição.

No decorrer dessas oficinas iniciais, crianças e adolescentes construíram entendimentos sobre o que é ser protagonista, como a resolução de conflitos é uma ferramenta essencial na mediação, e sobre o poder da articulação na promoção de oportunidades no seu território.

Após as oficinas iniciais, nossa equipe vem trabalhando intensamente para traduzir os conceitos e as experiências práticas em instrumentos de escuta (ou seja, questionários) que possam ser aplicados entre todos os públicos que circulam pela Liga. Com esses questionários finalizados, será realizada uma oficina intermediária, com alguns participantes que já contribuíram nas escutas iniciais, para validar as perguntas, sugerir adequações, formular novas questões e consolidar esses instrumentos da avaliação da melhor forma possível para que todas as pessoas se sintam contempladas e possam compreender tudo. E o mais importante: nesse processo, crianças e adolescentes são fundamentais, pois se eles compreendem o que está sendo perguntado, todas as outras pessoas compreenderão também.

Crianças e adolescentes, geralmente, não participam do processo de desenvolvimento de programas e políticas públicas criados para elas, mas a sua participação é fundamental, pois sua visão pode aprimorar a elaboração desses projetos. Mas, é só com a escuta de crianças e adolescentes que é possível entender se o que está sendo pensado atende, de maneira mais abrangente, sua demanda, dialoga com seus sonhos, respeita suas particularidades e responde a suas expectativas.

#AgendaCidadaUNICEF

Outro projeto em que temos contribuído para promover a escuta de adolescentes é o #AgendaCidadeUNICEF, realizado em parceria com o UNICEF e apoio de organizações parceiras, nos territórios de Cidade Tiradentes — São Paulo (Instituto Pombas Urbanas e Serenas) e Pavuna — Rio de Janeiro (Cedaps e Luta Pela Paz). Desde agosto de 2023 estamos realizando um processo que é uma extensão do mapeamento participativo feito em 2022, que busca compreender como está a saúde mental de jovens desses territórios.

O #AgendaCidadeUNICEF é uma iniciativa do UNICEF, em parceria com prefeituras municipais de grandes centros urbanos brasileiros, para promover direitos e oportunidades das crianças e dos adolescentes mais vulneráveis, contribuindo com a prevenção de violências. Propõe uma soma de esforços com sociedade civil, empresas, comunidades e adolescentes para fortalecer a cultura de inclusão, não discriminação, não violência.

Durante o mapeamento de 2022, as juventudes deixaram claro que a saúde mental é uma demanda importante em suas vidas, por isso a proposta é a de realizar uma pesquisa que se aprofunde sobre como estão adolescentes e jovens desses territórios, para que se possa buscar formas de aprimorar o atendimento dessa população, através da criação de políticas públicas e ampliação de serviços e equipamentos dessa área.

Para isso, desenvolvemos um questionário de forma colaborativa, com a participação de adolescentes dos territórios da Pavuna e Cidade Tiradentes, que refletiram e criaram perguntas para conhecerem o estado emocional e os desafios das juventudes de seus territórios em relação à saúde mental.

PerguntAção foi a metodologia utilizada no decorrer das oficinas, que aconteceram em São Paulo e no Rio de Janeiro. Por meio de atividades práticas, o método promove a colaboração de pessoas que vivem a realidade do território, com muita troca sobre a diversidade de vivências e experiências, saberes diferentes e muito compartilhamento. Além de promover a participação, a PerguntAção permite o contato com o processo de desenvolvimento de uma pesquisa, trazendo um componente formativo para participantes.

Ao longo das oficinas, adolescentes tiveram contato com o objetivo da pesquisa, construíram entendimentos sobre o que significa ter saúde, como a saúde mental impacta todas as outras áreas de suas vidas, bem como compreenderam as etapas de construção de uma pesquisa. Por meio de debates e reflexões colaboraram com a criação de questionário quantitativo que foi compartilhado em seus territórios. Em breve os resultados dessa escuta estarão disponíveis.

Conheça os mapeamentos participativos realizados em 2022, em parceria com o UNICEF.

Mapeamento participativo Cidade Tiradentes, São Paulo: https://www.unicef.org/brazil/media/23296/file/mapeamento-participativo_cidade-tiradentes.pdf

Mapeamento participativo Pavuna, Rio de Janeiro: https://www.unicef.org/brazil/media/25901/file#:~:text=%C3%89%20uma%20iniciativa%20do%20UNICEF,com%20a%20preven%C3%A7%C3%A3o%20de%20viol%C3%AAncias.