Participação Social durante o Isolamento Social: O que Aprendemos?

Rede Conhecimento Social
5 min readDec 23, 2020

No último dia 10, aconteceu mais uma edição do nosso programa “Por Trás da Prática”, um espaço destinado para a trocas e reflexões em torno dos projetos que realizamos. E, aproveitando a época, decidimos compartilhar algumas das nossas experiências na busca de continuar promovendo a construção coletiva de conhecimento em pleno contexto de isolamento social.

Durante uma conversa descontraída, retomamos como foram os últimos meses para o time, considerando os desafios pessoais e da organização como um todo, levando em conta os aspectos de projetos, parcerias e processos internos.

Com a constatação de que não seria mais possível manter a rotina presencial, nos deparamos com várias dúvidas sobre as adaptações necessárias para darmos continuidade aos nossos processos.

De um lado, tivemos os desafios pessoais como equipe, pois além da falta da convivência próxima, essa que facilitava a resolução de algumas questões, também nos deparamos com a realidade de um trabalho remoto que “disputava” espaço, tempo e atenção com a rotina da casa, os estudos dos filhos e demais afazeres.

E sabendo que todo mundo estava passando por essas adaptações, surgiu a preocupação em buscar possíveis ajustes em nossas metodologias para que nossas oficinas se encaixassem nas rotinas dos participantes dos projetos. Então uma das primeiras medidas que adotamos foi a redução da duração dos encontros, considerando que um período muito longo em uma videoconferência, tornaria o processo cansativo.

Outra inquietação que apareceu foi como conseguiríamos proporcionar um ambiente propício para a construção compartilhada, afinal sem a possibilidade de olhar nos olhos de cada participante, seria preciso redobrar a nossa sensibilidade para compreender sinais sutis e continuar promovendo trocas humanizadas.

O primeiro projeto que passou por uma adaptação foi o “Reconhecer, Resistir, Remediar”, feito com o InternetLab e o IBEAC - Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário. Com a intenção de investigar junto com jovens os impactos do discurso de ódio contra mulheres na esfera online, nos deparamos com o desafio de abordar uma temática delicada e além das dúvidas de como criar um ambiente seguro para acolher as histórias e vivências de cada participante, mesmo sabendo que o grupo já se conhecia de uma iniciativa anterior. No entanto, o avançar das atividades nos mostrou que as trocas que aconteciam para além dos momentos de oficinas, por exemplo no WhatsApp, aproximavam e nutriam esse grupo.

Então, a partir dessa experiência, ao entender as possibilidades que um conjunto de ferramentas nos apresentavam e cientes dos desafios da realização da metodologia de forma totalmente remota, percorremos novos caminhos que nos levaram a projetos como o “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus”, realizado em parceria com Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Porvir, UNESCO e Visão Mundial.

Diferente do exemplo anteriormente citado, o grupo de jovens que participou dessa pesquisa não se conhecia inicialmente, então surgiu a oportunidade de experimentarmos a construção de uma proximidade e cumplicidade, apesar das telas digitais. E uma das questões que possibilitou isso foi a compreensão da importância de respeitar o tempo das pessoas e as diferentes formas de contribuição que deixam cada uma delas mais confortáveis. Isso significa, por exemplo, que o chat da plataforma também é um espaço que promove interações e garante a participação. Portanto, ao entender as limitações e as possibilidades de cada um, aprendemos que muitas das vezes as câmeras fechadas não são sinônimo de ausência.

O “Futuro da Internet” — uma parceria internacional coordenada pela organização francesa Missions Publiques, e trazida ao Brasil pelo Delibera Brasil e por nós, com apoio da Internet Society Brasil — foi um outro projeto pensado para um formato 100% online e que ganhou muito com a mudança para um formato remoto. A proposta original desse diálogo cidadão previa um encontro presencial que contaria apenas com moradores da cidade de São Paulo, porém com a adaptação, tivemos a oportunidade de contar com as contribuições de pessoas vindas de todas as regiões do país, o que enriqueceu a discussão e permitiu aprofundar as reflexões a partir das diferenças de acesso e conexões dos participantes.

Os projetos aqui compartilhados são apenas alguns exemplos das experiências que vivenciamos nos últimos meses e apesar de suas particularidades, todos eles foram fontes de muitos aprendizados, não só para a organização, mas também para cada um de nós que integra o time.

Tendo em vista o ano de 2021, que ainda se mostra incerto, sabemos que os formatos que mesclem as interações presenciais e digitais vão nos acompanhar daqui para frente. Sendo assim, dentre todos os desafios de engajar e promover trocas saudáveis, precisamos também buscar soluções para garantir a participação de pessoas que não tem o mesmo acesso, seja pela conexão ou a falta de equipamentos. Só com isso em mente, poderemos integrar cada vez mais saberes diversos na produção de conhecimento, não esquecendo a importância de desenvolvermos nossas habilidades e competências para não perder de vista as construções de conexões mais subjetivas que são essenciais para os processos de escuta com qualidade.

No final das contas, por mais que as palavras participação e isolamento pareçam opostas, chegamos ao final desse ano entendendo que construímos muitas coisas interessantes e cada uma delas só foi possível a partir de adaptações, testes, acertos e erros. Porém, independente dos ajustes que ainda se fazem necessários, as conexões com novas pessoas nos fortaleceram e ampliaram nossas redes em torno de questões de extrema relevância como crianças e adolescentes, empreendedorismo, gênero, juventudes, tecnologias digitais e os efeitos da pandemia na educação. E a soma disso tudo faz com que a construção compartilhada de conhecimento continue sendo uma forma de catalisar a participação social, mesmo em um cenário de grandes mudanças.

A segunda edição do “Por Trás da Prática” está disponível no YouTube, acesse e confira na integra as nossas reflexões:

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Rede Conhecimento Social

Organização sem fins lucrativos que tem como missão promover a construção compartilhada de conhecimento conectando pessoas para gerar transformação.