Os Desafios das Desconexões no Ensino Remoto

Rede Conhecimento Social
5 min readApr 8, 2021

O mês de abril traz consigo a celebração do Dia da Educação (28), data que acaba sendo uma oportunidade para a mobilização de diferentes atores sociais em prol de uma pauta que tem uma grande relevância para sociedade, mas que enfrenta muitos desafios para ser promovida de forma equitativa em nosso país. Ainda mais no atual contexto de suspensão das aulas presenciais por conta da crise sanitária que vivenciamos.

Há um ano, com o início da pandemia, temos acompanhado uma série de medidas ao longo dos meses de distanciamento social e notado mudanças e efeitos diversos sobre a educação em nosso país. E para compreender como as redes de ensino, docentes, estudantes e seus familiares estão lidando com essas questões, o estudo “Retratos da Educação na Pandemia: Um Olhar sobre Múltiplas Desigualdades” buscou construir um diálogo entre cinco pesquisas realizadas ao longo de 2020 por diferentes organizações da sociedade civil.

Tomando como referência esse rico material, aproveitamos para compartilhar alguns dos dados que nos chamam a atenção e geraram reflexões sobre o acirramento das desigualdades educacionais que exigem a atenção de todos nós.

Desafios de Conexões

Quando falamos sobre educação remota, logo podemos imaginar os desafios tecnológicos que alguns estudantes enfrentaram, e ainda enfrentam, para manter suas rotinas escolares, afinal as condições e formas de acesso se mostram desiguais, conforme podemos notar no seguinte quadro:

(Fonte: Retratos da Educação — Um Olhar sobre Múltiplas Desigualdades [outubro/2020])

É alarmante a constatação de que 71% dos estudantes de ensino médio das redes privadas possuem acesso a um computador/notebook, enquanto apenas uma parcela de 29% de jovens do ensino médio público tem à sua disposição esse tipo de aparelho. Essa informação traz luz ao fato de que a educação não encontra só a barreira do acesso à internet, localizando também os desafios dos equipamentos que estão disponíveis e como esses podem facilitar ou dificultar o processo de aprendizagem, seja pelo tamanho da tela, por não contar com a totalidade de recursos auxiliares das plataformas, ou até mesmo pelos desconfortos gerados ao utilizar um celular por um longo período.

Essa percepção sobre as limitações de acesso aos aparelhos não é apenas de jovens, mas também de seus familiares, como apontam os dados da Onda 2 da pesquisa Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures:

“(…) mais de 4 em cada 10 estudantes (42%) não teriam, segundo seus familiares, equipamentos e condições de acesso adequados para o contexto da educação não presencial.” Fonte: Retratos da Educação — Um Olhar sobre Múltiplas Desigualdades (outubro/2020)

Esses poucos dados que destacamos já trazem uma dimensão inicial dos contextos diversos que encontramos e que demandam soluções diversificadas que aumentem o acesso. Em outras palavras, não podemos enxergar os ambientes digitais como os únicos meios para promoção de aulas remotas. Não podemos nos esquecer do papel que a televisão, o rádio, os materiais impressos e outras estratégias desempenham para complementar e amplificar o acesso aos conteúdos escolares. Bem como precisamos direcionar nossa atenção a políticas de universalização do acesso à internet e a equipamentos digitais.

Outro ponto que também é importante evidenciar e considerar quando falamos sobre conexões, são os vínculos pessoais entre professores e estudantes, questão que também está sendo impactada pelo distanciamento das salas de aulas, como bem pontuado pelos professores:

(Fonte: Retratos da Educação — Um Olhar sobre Múltiplas Desigualdades [outubro/2020])

Se educadores sentem essa dificuldade em relação às conexões pessoais, do “outro lado” dessa relação a percepção não é muito diferente, pois 61% dos alunos do ensino médio público concordam que tem sido difícil tirar dúvida com os professores sem o contato presencial, conforme os dados da pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus. Esse tema traz mais uma evidência das desigualdades educacionais acirradas pelo contexto, pois notamos que cai para 38% os jovens de escolas particulares que concordam que sentem a mesma dificuldade.

“Do meu ponto de vista, (…) nenhuma ferramenta tecnológica pode substituir um professor em sala de aula. Assim, pode substituir, mas não substitui 100%, né, porque (…) se você ficar com uma dúvida em casa, você não vai entender o conteúdo completamente…” (Fonte: Pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus, 2020. Fala de jovem participante da pesquisa)

Os Possíveis Impactos da Falta de Conexões

Diante desses problemas que passam por questões de conexões tecnológicas e afetivas, somada a outros aspectos abordados na publicação Retratos da Educação, notamos um cenário de preocupação de docentes diante da percepção de seus alunos sobre a aprendizagem:

(Fonte: Retratos da Educação — Um Olhar sobre Múltiplas Desigualdades [outubro/2020])

Porém, quando analisarmos essas percepções dos professores sob um recorte das redes de ensino privada e pública, as desigualdades são mais uma vez visíveis: enquanto 36% dos docentes das escolas privadas consideram que seus estudantes aprenderam o esperado, apenas 17% dos professores das instituições municipais e 13% dos que lecionam para jovens da rede estadual concordam com que houve a aprendizagem esperada. Não podemos negar que os três cenários são muito preocupantes, porém é importante lembrar que 81% dos estudantes brasileiros frequentam escolas municipais ou estaduais (Censo da Educação Básica 2020 — IBGE), isto significa que a promoção de equidade na educação se mostra cada vez mais desafiadora e distante.

Portanto, em um cenário incerto, sem uma previsão concreta de retorno presencial e seguro para as atividades escolares, nos deparamos com problemas complexos que aprofundam as desigualdades educacionais já existentes. A busca de soluções para esses cenários precisa contar com envolvimento de todos os atores do campo e principalmente daqueles que são afetados diretamente e lidam com essas barreiras diariamente.

É preciso continuar escutando crianças, adolescentes, juventudes, famílias e comunidades escolares para construirmos entendimentos de quais caminhos podemos seguir coletivamente para mitigar os impactos da pandemia na área da Educação.

Conheça outros dados e análises do informe Retratos da Educação na primeira (https://bit.ly/Relatorio-RetratosDaEducacao) e na segunda edição (https://bit.ly/RetratosDaEducacao_Desigualdades) do estudo e na conversa promovida pela Fundação Santillana com Ana Lima, nossa Cofundadora e Consultora Institucional (https://bit.ly/webinario-FundacaoSantillana).

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Organização sem fins lucrativos que tem como missão promover a construção compartilhada de conhecimento conectando pessoas para gerar transformação.