O impacto do ensino remoto no processo de ensino-aprendizagem

Rede Conhecimento Social
5 min readMay 11, 2023

No dia 10 de abril de 2023, lançamos o Relatório Especial Ensino Médio da pesquisa “Juventudes e a Pandemia: E Agora?”. A terceira edição da pesquisa mapeou o impacto da pandemia na vida de jovens, entre 15 e 29 anos, além de apresentar caminhos possíveis para minimizar seus efeitos. Um processo participativo que escutou mais de 16 mil jovens, dos quais 3.512 declararam estar cursando o ensino médio regular, técnico ou EJA, em 2022.

Para celebrar o Dia da Educação, convidamos um dos jovens pesquisadores que contribui com a pesquisa desde sua primeira edição, Caio Henrique, de Recife (PE), estudante de Licenciatura em Física na UFPE, professor voluntário em projetos de extensão e bolsista de monitoria no Colégio de Aplicação-UFPE. Além de Emilly Carvalho Espildora, bacharel em Gestão de Políticas Públicas, pesquisadora no Colab-USP e na Rede Conhecimento Social, representante da sociedade civil no 3º Plano de Governo Aberto da Cidade de São Paulo. Juntos, eles comentaram sobre os dados do relatório e compartilhar suas experiências como jovens pesquisadores desse estudo e sobre os desafios e aprendizados ao longo dos anos de pandemia.

Considerando todo esse cenário e necessidade de adaptação, e tendo em vista a importância da fase do ensino médio na vida escolar, Emilly Espildora explicou que ter que aderir ao ensino remoto por causa da pandemia pode ter causado muitos desafios emocionais, em virtude da preocupação, ou por receio de se perder naquele período.

Foram 3 a cada 10 estudantes que indicaram como principal preocupação agravar ou desenvolver problemas de saúde física, ou mental devido à pandemia. “Logo, a saúde mental está vinculada com a educação, com o ensino remoto e também com esse período pandêmico”, enfatizou Emilly.

Diante disso, as possíveis soluções ou ações indicadas por jovens para instituições públicas e privadas para ajudar a minimizar os efeitos da pandemia são: atendimento psicológico especializado em jovens no SUS e acompanhamento psicológico nas escolas.

Por isso, tanto no ensino médio, quanto em outras etapas da educação, muitos alunos que retomaram o ensino presencial, após o período de ensino remoto, sentem que não aprenderam nada, ou que foi um tempo perdido, que ilustra bem esses dados. Caio explicou que, diante de todo esse contexto, estudantes percebem, durante o retorno às aulas presenciais, que não estão conseguindo render como gostariam, muitas vezes porque não estavam com o conteúdo bem absorvido.

Como apoiar estudantes para serem mais otimistas com a continuidade dos estudos?

Não é possível ajudar estudantes, sem antes refletir sobre seu contexto. Caio reforça que, da mesma forma, não podemos construir um projeto de vida sem entender e considerar a saúde mental, especialmente com o retorno das aulas presenciais, pois é o que mais tem afetado os estudantes.

“Aliás, durante a minha formação, não tive nenhum conteúdo voltado para criação de um projeto de vida que considera a saúde mental. Os cursos de formação de professores, no geral, com exceção de pedagogia, com uma grade mais reflexiva, praticamente, não formam professores, formam especialistas com noções de educação.”, diz Caio.

A mesma preocupação se reforça quando observa a formação como especialista. “Falando sobre a minha formação em física, não temos no Brasil cursos de formação de professores voltados para o desenvolvimento de um projeto de país, sobretudo, para os desafios proporcionados pela pandemia. Ainda que tenhamos tido uma mudança na política educacional para o ensino médio, não tivemos uma alteração de política de formação de professores para isso”, aponta Caio.

Contudo, alerta que essa mudança é urgente, e deveria começar pela formação de professores, para depois refletir em outras etapas da educação.

“É preciso investir numa educação mais humanizada, com um olhar mais humanizado e mais jovem também. Colocar o jovem para participar das decisões da escola, para que ele se sinta pertencente, para que o jovem consiga entender qual o papel da educação na sua vida”, reforça Emilly.

O que ficou de aprendizado para o futuro da educação e do processo de ensino?

“Aprendizado não é somente o que levamos de positivo, também é o que não funcionou. Por exemplo, um dos aprendizados da pandemia é que estamos sujeitos a mudanças o tempo todo, ter noção dessa efemeridade e de nossa rotina é importante no momento de se planejar”, aponta Caio Henrique.

A pesquisa mostra que, no contexto da educação o que fica de aprendizado é que a tecnologia está dentro da educação e não é mais possível dissociar um do outro. Além disso, “é importante ter formação de alunos e professores para a tecnologia e na tecnologia, porque estamos inseridos nesse mundo. E que a nossa saúde física e emocional afeta demais o aprendizado, afeta demais a educação”, completou Caio.

Para Emilly Espildora, a educação precisa ser o foco da sociedade, do país. “Precisamos focar em permitir que as crianças e jovens estudem. Porque não existe formação de pais, não existe desenvolvimento que não passe pela educação. Educação com qualidade, com profissionais bem remunerados, com formação continuada, com estrutura e participação social”, explica.

Para os jovens pesquisadores, sem educação é impossível promover conhecimento e transformação, por isso, é preciso que esta seja uma prioridade para governantes, empresas e sociedade civil. “Pra gente conseguir fazer uma mudança no nosso país, pra gente ter desenvolvimento social, pra reduzir as desigualdades. Precisamos investir em educação de qualidade, com saúde, com projeto de vida, com perspectiva de futuro pra gente conseguir ter um país melhor”, reforça Emilly.

“Enfim, a saúde mental afeta o trabalho, afeta a renda, afeta tudo, e, inclusive, a educação”, enfatiza Caio Henrique.

Para conferir a entrevista completa acesse: O impacto do ensino remoto no processo de ensino/aprendizagem

O Relatório Especial Ensino Médio é uma realização da Rede Conhecimento Social e do Unicef. A pesquisa é coordenada pelo Atlas das Juventudes e correalizada em parceria com o Em Movimento, Conselho Nacional de Juventude, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Porvir, Unesco Brasil e Visão Mundial com apoio de #ItaúEducaçãoeTrabalho, GOYN (iniciativa da United Way Brasil), UNICEF Brasil e Fundação Roberto Marinho.

Para conhecer o relatório acesse: https://atlasdasjuventudes.com.br/juventudes-e-a-pandemia-do-coronavirus/

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Organização sem fins lucrativos que tem como missão promover a construção compartilhada de conhecimento conectando pessoas para gerar transformação.