Jovens pesquisadores Emilly e Fabio — suas vivências e aprendizados em projetos com juventudes periféricas

Rede Conhecimento Social
6 min readAug 31, 2023

Fabio Barcelos e Emilly Espildora compartilharam, em vídeo, suas vivências e aprendizados como pesquisadores que atuam na área de projetos na Rede Conhecimento Social. Compartilhando o fato de serem jovens que pesquisam outros jovens, eles contam um pouco sobre a conexão entre os projetos que vêm trabalhando atualmente: “#Agenda Cidade UNICEF” e “Injustiças estruturais na cidade de São Paulo”, ambos realizados com juventudes periféricas.

Fabio Barcelos, jovem e pesquisador na ReCoS, como chamamos carinhosamente a Rede Conhecimento Social, sociólogo em formação, pela UNIFESP, com afinidade em temas relacionados a mobilidade urbana e tecnologia.

Emilly Espildora, jovem e pesquisadora da ReCoS, com formação em Gestão de Políticas Públicas, pela USP, pesquisa, principalmente, a participação de juventudes no processo de construção de políticas públicas e produção de conhecimento, além disso, atua como mediadora da Rede de Jovens Pesquisadores — iniciativa desenvolvida pela ReCoS.

Na ReCoS, já colaborei em alguns projetos sobre juventudes, começa Emilly, sendo que o último que coordenei foi a pesquisa “Injustiças estruturais entre jovens na cidade de São Paulo”, realizada em parceria com o Juventudes Potentes / United Way. Uma experiência muito interessante, pois, convidamos jovens das periferias da cidade de São Paulo (regiões sul e leste) para construir uma consulta sobre “injustiças estruturais”. Que para eles, era uma realidade muito próxima, mas não era colocada como um dado, ou não eram apresentadas como um conceito. Por isso, acredito que esse processo de construir “em colaboração” foi muito importante, completa Emilly.

Dentro do tema de juventudes, no ano passado, a gente desenvolveu uma pesquisa, um mapeamento participativo em Cidade Tiradentes (SP) e Pavuna (RJ), bairro do extremo leste da cidade de São Paulo, explicou Fabio. Mapeamento participativo realizado em parceria com o programa #Agenda Cidade UNICEF.

No decorrer do processo participativo tentamos entender como é viver nesses territórios a partir de várias perspectivas: de moradores, de jovens, crianças e adolescentes. Buscando compreender um pouco como era a oferta de serviços públicos, e como os jovens percebiam a vida, percebiam o atendimento e os equipamentos dos serviços públicos na região onde moram.

É um processo muito interessante ouvir jovens, crianças e adolescentes. É um movimento muito importante para construir políticas que dialoguem, que não fiquem numa esfera superior de debate, explicou Fabio. É inserir o jovem periférico, negro e pobre na discussão do que é uma cidade mais justa, mostrar como é diferente a relação em territórios mais periféricos atravessados por várias desigualdades. Dito isso, esse processo de escuta foi muito relevante, porque conseguimos, ao mesmo tempo, ouvir os jovens e trazer o que eles falavam para a conversa com gestores e pessoas da sociedade civil.

Um momento de construção muito rico e potente, tanto para nós, pesquisadores, como para o território, falou Fabio sobre sua participação no projeto #Agenda Cidade UNICEF.

Fabio e Harika durante oficina de PerguntAçãocom jovens na Cidade Tiradentes (SP)

Como essas experiências dialogam?

O interessante é que como a pesquisa da “#Agenda Cidade UNICEF” foi realizada antes do projeto sobre “injustiças estruturais”, a gente utilizou muito do material já produzido, para ajudar a pensar as outras periferias, lembrou Emilly.

A questão que motivou a pesquisa Injustiças Estruturais eram os desafios impostos aos jovens das áreas mais periféricas da cidade de São Paulo no seu processo de inclusão produtiva, especialmente atravessados pelas questões urbanas. Com o trabalho coletivo e participativo, foi possível perceber não só as questões específicas dos territórios, mas também semelhanças existentes neles.

De falar “existe tal serviço público?”, existe, porque se a gente bate na porta da prefeitura ou do governo para exigir alguma coisa eles falam “mas o serviço está disponível”, comenta Emilly. No entanto, “os jovens conhecem? Os jovens estão acessando? Os jovens se sentem pertencente?”. Então, com a pesquisa conseguimos captar mais coisas do que só o dado, e produzir um conhecimento mais qualificado sobre aquelas regiões.

Se tem uma coisa que casa as duas pesquisas, complementou Fabio, é que, saber que o equipamento está dentro do território, não significa acessar, nem se sentir pertencente aquele equipamento. Assim, existe uma questão, que mesmo que o equipamento esteja lá disponível, não significa que esse jovem está utilizando. Seja para fazer um atendimento, seja para usar um espaço de lazer ou cultura. Portanto, tem uma questão de como o equipamento ou serviço público é lido pelos próprios jovens.

Esse processo dentro do #Agenda Cidade UNICEF, de escutar jovens, crianças e adolescentes foi muito importante, pois é um lugar para você ouvir. Porque eu, como um jovem negro periférico, já morei no extremo da cidade. Então, é também você revisitar sua própria experiência, lógico que num outro momento, falou Fabio.

Mas, acho importante que a gente escute crianças e adolescentes pobres, negras e periféricas para conseguir aprender. Visto que, o aprendizado não está só na universidade, não está só no centro, está nas periferias. Há muita estratégia no conhecimento dentro das periferias, tem muitos saberes que não são potencializados, ou não são valorizados, porque não estão num modelo acadêmico, completou o pesquisador.

Oficina de PerguntAção em Cidade Tiradentes (SP)

As vantagens da construção coletiva

Para Fabio, o movimento de ouvir jovens, crianças e adolescentes tem importância, já que não é só um processo de escuta, é também um processo de levar o que a gente escuta para outras instâncias, tanto para o poder público, como para organizações da sociedade civil. Pensando em gerar algum tipo de incidência, promover algum tipo de impacto dentro território, e também na vida da população escutada e envolvida no processo.

Participar da construção de pesquisas, explica Emilly, como a “Injustiças estruturais entre jovens na cidade de São Paulo”, foi um momento dentro de meu tempo de organização, na ReCoS, que eu consegui produzir um estudo. Além de atuar num projeto que trouxe muitos dados diferentes dos que já estavam sendo pesquisados.

Foi o momento que percebi o poder de uma produção de conhecimento colaborativo e participativo, porque, até então, a gente tentava analisar com um olhar mais macro. Afinal, participei de muitas pesquisas que olhavam o Brasil, por isso, precisávamos trazer coisas que juntavam, as pessoas, explicou Emilly. Mas quando vamos para um nível mais local, como uma periferia, o conhecimento produzido é muito mais rico, muito mais diverso e diferente do que já está pronto. E mais específico, para conseguir levantar as demandas.

Emilly no lançamento da pesquisa Injustiças estruturais entre jovens na cidade de São Paulo, no Itaú Cultural

Como esse projeto contribuiu com sua bagagem de jovem pesquisador?

Atuar nessa pesquisa me enriqueceu como pesquisadora, pois, deixou claro a importância de ouvir mais as pessoas. Foi o que mais me provocou, “caramba eu estou produzindo um material que não tinha visto em nenhum outro lugar”, enfatizou Emilly.

Inclusive foi uma pesquisa muito bacana de poder ter produzido, estar com os jovens e poder conhecer onde eles moravam. Também conseguir ensinar alguma coisa para eles, ensinar como fazer pesquisas para, continuarem nesse caminho de produção de conhecimento.

Já no projeto #Agenda Cidades Unicef, o que chamou a atenção é termos levantado indicadores sobre os territórios, que são dados produzidos pelo poder público. Sendo que, muitas vezes, esse dado não reflete a realidade, explicou Fabio. É um número frio, que não, necessariamente, representa a vivência e experiência de quem vive na periferia.

Portanto, conseguir debater esses dados, conseguir dar substância para essas informações, com a experiência, com os saberes e com a percepção das pessoas que vivem essa realidade da qual o indicador fala, é muito importante. Porque a gente considera não só o dado quantitativo, mas sim, também, o dado qualitativo. A gente consegue casar duas abordagens, para conseguir produzir conhecimento, com um recorte, um universo mais amplo de saberes reunidos, completou Fabio.

Entrevista disponível no nosso canal no YouTube, para assistir acesse: https://www.youtube.com/watch?v=aIfdnRRsACs

Para baixar o relatório da pesquisa Injustiças Estruturais entre jovens na cidade de São Paulo, clique em: https://drive.google.com/drive/folders/1b1e54U58_NXai4kGmE7fxAKuQPUiu5F0

O relatório do projeto #AgendaCidadeUNICEF Mapeamento Participativo — Cidade Tiradentes, está disponível em: https://www.unicef.org/brazil/media/23296/file/mapeamento-participativo_cidade-tiradentes.pdf

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Organização sem fins lucrativos que tem como missão promover a construção compartilhada de conhecimento conectando pessoas para gerar transformação.